domingo, 17 de abril de 2011

Breve Relato dos Principais Acontecimentos da História da Educação dos Surdos no Mundo e no Brasil

Acreditamos que a história sempre nos faz refletir e entender os fatos atuais, que o presente não está descolado do passado, que a trajetória é importante pra ser vista como um processo.

Na tentativa de refletirmos sobre a situação dos surdos de Ipatinga, as políticas públicas, sua inclusão, sua trajetória e seu atual processo, procuramos fazer uma síntese da história da educação dos surdos no mundo e no Brasil.

Constam nos autos que os primeiros educadores de surdos surgiram no século XVI, pelos monges beneditinos. Destaca-se, na Espanha, no ano de 1570 o monge Pedro Ponce de Leon, que deu origem a língua de sinais, foi dado a ele também o mérito de provar que o surdo era capaz.

Em 1620 o padre espanhol Juan Pablo Bonet, filósofo e soldado, considerado um dos primeiros preceptores de Surdos, escreveu o primeiro livro de surdos-mudos (expressão usada na época, atualmente em desuso) com o nome de “Redação das Letras e Artes de Ensinar os Mudos a Falar”, Bonet foi o primeiro quem idealizou e desenhou o alfabeto manual.

No ano de 1755, o francês abade Charles-Michel de L’ Epée, considerado o “pai dos surdos”, fundou a primeira escola para ensino de surdos em Paris.

Em 1864 Edward Gallaudet, fundou a primeira faculdade para Surdos, localizada em Washington. Clerc, personagem importante dessa história, professor surdo e também um dos fundadores da faculdade, defensor da língua de sinais, falece. Em 1869 é implantado o oralismo.

Em 1878 as instituições de educação de surdos se disseminaram por toda a Europa, no auge da educação de surdos, em 1880, em Paris, aconteceu o Segundo congresso Internacional de Surdos-mudos, instituindo que o melhor método para a educação de surdos seria o oralismo, apenas um surdo participou desse congresso, sendo convidado a se retirar no momento da votação.

Diversos países da Europa adotaram o método oral, acreditando que seria o melhor para a educação de Surdos. Observou-se a decadência na educação e na cultura surda, pois uma determinação mundial colocou-os numa posição submissa, quando lhes proibiram por quase 100 anos, de usar uma língua que lhes era de direito.

Passados mais de dois séculos podemos compreender porque essa comunidade surda se mostra desconfiada em relação aos ouvintes, preferem casamentos entre si, gostam de viver em “guetos” e estudar com os iguais.

Compreendemos que apesar do passado traumático, nossos antepassados pensaram ser o melhor na época. Nos sensibilizamos, os estudiosos defensores do oralismo se deram por vencidos, resolveram aceitar o uso da língua de sinais como possibilidade para os surdos.


História da Educação de Surdos no Brasil


No Brasil, a educação de surdos teve início durante o segundo império, com a chegada do educador francês Ernest Huert. Deu-se a origem da Língua Brasileira de Sinais com grande influência da língua francesa. Huert solicitou a D. Pedro II, um prédio para fundar , em 26 de setembro de 1857, o primeiro Instituto dos Surdos-Mudos do Rio de Janeiro, atual Instituto Nacional de Educação dos Surdos – INES. Importante instituição na disseminação da cultura surda.

Desde 1980, a filosofia educacional do bilingüismo tem sido difundida no Brasil.

Temos tido o privilégio de visualizarmos através dos movimentos das pessoas Surdas e da sociedade de uma forma geral, vários avanços quanto a socialização, inclusão e educação dessa comunidade específica.

No dia 24 de abril no ano de 2002, foi aprovada a lei 10.436, sancionada pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso, que em seu Art. 1º Parágrafo único. Entende-se como Língua Brasileira de Sinais - Libras a forma de comunicação e expressão, em que o sistema lingüístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria, constitui um sistema lingüístico de transmissão de idéias e fatos, oriundo de comunidades de pessoas surdas do Brasil.

E em seu Art. 2º. Deve ser garantido, por parte do poder público em geral e empresas concessionárias de serviços públicos, formas institucionalizadas de apoiar o uso e difusão da Língua Brasileira de Sinais - Libras como meio de comunicação objetiva e de utilização corrente das comunidades surdas do Brasil.

Podemos mencionar também o Decreto n° 5.626, de 22 de dezembro de 2005, onde o presidente da república Luiz Inácio Lula da Silva, no uso de suas atribuições, no referido decreto, define o que é a pessoa surda, o que é deficiência auditiva, inclui a LIBRAS como disciplina curricular, fala da formação do professor de libras e do instrutor da educação de surdos, entre outros destaca o papel do poder público no apóio e difusão da LIBRAS.

Recentemente no dia 02 de setembro de 2010, o mesmo presidente LULA regulamenta a profissão de tradutor e intérprete da libras. Fechando a lacuna que faltava ás empresas quanto à regulamentação da contratação do mesmo.

Em Belo Horizonte, Minas Gerais, aos 10 de Janeiro de 1991, através da lei Estadual 10.379, o Governador Newton Cardoso reconhece oficialmente, no Estado de Minas Gerais, como meio de comunicação objetiva e de uso corrente, a linguagem gestual codificada na Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS. Em seu Art. 1º- Fica reconhecida oficialmente, pelo Estado de Minas Gerais, a linguagem gestual codificada na Língua Brasileira De Sinais - LIBRAS - e outros recursos de expressão a ela associados, como meio de comunicação objetiva e de uso corrente.

História da Educação de Surdos na cidade de Ipatinga

Trazendo esta história para mais perto de nós, podemos citar vários segmentos de nossa cidade que fizeram e fazem parte desse árduo movimento em prol da ascensão dos surdos em nossa sociedade.
Assim como os primeiros educadores de surdos foram os monges beneditinos, não aconteceu diferente em Ipatinga. Podemos observar que grande parte dos intérpretes surgiram de entidades religiosas e um dos primeiros movimentos de difusão e divulgação dessa cultura se deu pelo trabalho desenvolvido por membros da igreja Batista do Bom Retiro, pelo ministério com surdos Korban, que há 17 anos tem como missão não só evangelizar os surdos mas também de incluí-lo na sociedade, instruindo-o e capacitando-o a ministrar cursos de LIBRAS em diversos segmentos.

Outro importante marco foi a fundação da Associação de surdos de Ipatinga - Asipa, a partir desse movimento foi criada a primeira classe de surdos em Ipatinga, situada na Escola Maria Rodrigues Barnabé. Pioneira na educação de surdos, um exemplo de inclusão e cidadania. Outras escolas foram surgindo, podemos citar a Escola Estadual João XXIII, a Escola Municipal Altina. Cremos que outras surgirão, pois continuaremos a lutar. Nosso desejo é que a inclusão dos surdos seja algo espontâneo, sem tanto sofrimento.

Em relação ao poder público, podemos mencionar através da luta dos surdos, entidades e amigos parceiros da cidade de Ipatinga, as vitórias já alcançadas, como o direito ao passe livre. Pela recente lei de nº 2.640 de 14 de setembro de 2009, de autoria do vereador Nilton Manoel que dispõe sobre a oficialização da LIBRAS em todas as repartições públicas. Pela Lei Nº 2603 de 23/09/2009 que "Institui no Calendário Oficial de Eventos do Município de Ipatinga, o Dia Municipal dos Surdos, a ser realizado, anualmente, no dia 26 de setembro”. Em seu Art. 2º cita que “O Executivo, por intermédio de seu órgão competente, promoverá atividades que contribuam para uma reflexão sobre a condição de vida do surdo, possibilitando-lhe maior inserção social e política”.

Acreditamos que muito ainda está por fazer, precisamos nos conscientizar do nosso papel como governantes, educadores, terapeutas e familiares das pessoas surdas. Necessário se faz nos unirmos e nos empenharmos para fazer com que essa barreira comunicativa possa, a cada dia, se estreitar. Que possamos viver num mundo com as mesmas oportunidades para todos, independente de suas características.

P.S: Discuso proferido na Assembléia de abertura do "Dia de Conscientização da Pessoa Surda", na Câmara Municipal de Ipatinga

Pesquisa de autoria da Professora intérprete da LIBRAS – Wanilda Varela Souza Vieira.

Referências Bibliográficas:

Varela, Wanilda Souza Vieira. Breve Relado dos Principais Acontecimentos da História da Educação de Surdos no mundo e no Brasil. Discurso de abertura da audiência pública da pessoa Surda, realizada na Câmara Municipal de Ipatinga, dezembro de 2010.

HONORA, MÁRCIA. Livro Ilustrado de Língua Brasileira de Sinais: Desvendando a comunicação Usada pelas Pessoas com Surdez/Márcia Honora, Mary Lopes Esteves Frizanco. São Paulo: Ciranda Cultural, 2009.

INES – Instituto Nacional de Educação de Surdos. Rio de Janeiro. 2006. (?????)

Site: http://www.ebah.com.br/minas-gerais-leis-libras-e-surdos-pdf-a63791.html. Acesso em 01/11/2010.

Site: http://pt.wikipedia.org/wiki/Charles-Michel_de1’%C3%89%. Acesso em 30/10/2

Um comentário:

  1. bom... o que é o korban, e como ele surgiu?
    Só falta isso prá ficar melhor. Parabéns!

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