quinta-feira, 9 de junho de 2011

Orientação Sexual em Pessoas com Deficiência Intelectual.

Orientação Sexual

Introdução

As orientações nacionais do Ministério da Educação referentes à organização curricular, deverão incluir a referência à necessidade de cada escola, programar e implementar ações e programas de Educação e Orientação Sexual a nível curricular e extra-curricular, aproveitando ou criando espaços, tais como: a Formação Cívica, a Área de Projeto, o Desenvolvimento Pessoal e Social, entre outros. Então, cada escola deverá integrar estas orientações nacionais no seu Projeto Educativo e criar um núcleo responsável pela aplicação do nº2 do Art° 47 da LBSE e legislações complementares.

A Orientação Sexual cada vez se faz mais necessária nas escolas, seja no Ensino com Pessoas com Necessidades Educacionais Especiais ou do Ensino Regular. Sendo assim, entende-se que um trabalho com uma equipe multidisciplinar composta pelo Departamento de Educação; Professores; Psicólogos, envolvendo a família, comunidade, mídia e todos os outros intervenientes na educação da criança/jovem, possibilitará um maior esclarecimento nesta área, favorecendo assim um desenvolvimento mais harmonioso e saudável.

Refletirmos sobre a orientação sexual é refletirmos sobre o nosso corpo, como expressamos nossos sentimentos e emoções. A Orientação Sexual compreende diversos aspectos da sexualidade e das relações que estabelecemos com os outros e conosco, enquanto seres sexuados e dotados de uma identidade sexual.

A Orientação Sexual desempenha um papel de extrema importância na promoção da auto-estima, afirmação pessoal e desenvolvimento da personalidade.

A Orientação Sexual na Pessoa com Deficiência Mental

A pessoa com deficiência mental, como qualquer ser humano tem necessidade de expressar os seus sentimentos, de uma forma específica, própria.
A repressão da sexualidade nestas pessoas pode alterar o seu equilíbrio interno. Por outro lado, a sexualidade devidamente orientada melhora o desenvolvimento afetivo e favorece a sua capacidade de se relacionar, melhorando a auto-estima e a aproximando-se mais de um padrão desejado em relação à sociedade.

Freqüentemente a discussão do tema sobre sexualidade na nossa sociedade, vem sempre acompanhada de preconceitos, mitos e discriminações. Quando esse tema se refere à sexualidade da pessoa com deficiência mental, os preconceitos e as discriminações mencionadas anteriormente intensificam e geram ainda mais polêmicas quanto às diferentes formas de abordar o assunto.

Sabemos das diferenças e temos conhecimento da diversidade das pessoas com deficiência, mas apesar dessas diferenças, a maioria é capaz de aprender a desenvolver algum nível de aptidão social e conhecimento sexual. Podendo incluir ainda, a habilidade para diferenciar os comportamentos apropriados e não apropriados, assim como para desenvolver um senso de responsabilidade no que se refere aos cuidados de nível pessoas e de relacionamento com os outros. Devemos nos apropriar dessa diversidade e traçar os caminhos para uma orientação sexual, focados nas possibilidades dessas pessoas e não nas limitações.

Em se tratando dessa problemática, discutem diversas crenças existentes na nossa sociedade, alguns autores acredita que jovens com deficiência não são sexualmente ativos (embora alguns adolescentes, com deficiência profunda possam ser menos aptos que os seus pares para serem sexualmente ativos, a crença é infundada, pois não se deve assumir que a condição de deficiência por si só, preveja o comportamento sexual).

Por outro lado, as aspirações sociais e sexuais de pessoas com deficiência não são diferentes dos seus pares, pois apesar do isolamento social que muitas pessoas com deficiência vivenciam, estudos demonstram que a maioria destes jovens, gostariam de ter relações sexuais, de se casar e ter filhos.

Pessoas com Deficiência Leve e ou Moderada

As pessoas com deficiência leve e ou moderada, são aqueles que mais geram polêmicas, isto porque estão mais próximos em termos de comportamento e de desenvolvimentos das pessoas que não tem deficiência, expressam melhor as suas necessidades e vivem mais em sociedade.

Por se relacionarem melhor com as outras pessoas e viverem mais em comunidade, estão expostos aos mesmos perigos, estímulos e pressões que as outras crianças e jovens sem deficiência. Não é incomum perguntarem: Porque não posso casar ou namorar? Quero ter filhos; minha casa, minha família; porque não posso ir a um barzinho?, e uma série de outras perguntas.

Com a finalidade de evitar situações embaraçosas como à masturbação em público, nudez, gestos obscenos e até mesmo os abusos sexuais, este público de alunos com Necessidades Educativas Especiais devem beneficiar de uma intervenção ao nível da Orientação Sexual, de forma a sensibilizá-los para situações que possam estar expostos assim como para comportamentos mais aceitáveis a ter em sociedade.

Sugerimos que as pessoas mais indicadas para auxiliar o esclarecimento destes alunos, sejam em primeiro lugar os próprios pais, professores/educadores que acompanham os alunos diariamente. Contando que sejam devidamente capacitados quanto ao tema da sexualidade. Contudo, muitos destes alunos apresentam por vezes sentimentos de solidão, privando-se das relações humanas, necessitando assim da intervenção de um psicólogo.

Infelizmente, além disto, verificam-se comportamentos superprotetores dos pais e educadores (colocando por vezes obstáculos que dificultam um melhor desenvolvimento, e por vezes a aprendizagem não é possível devido à incapacidade do sujeito, mas sim devido às condições em que ocorre o processo educativo); o percurso da maioria destes jovens (casa-escola) e o baixo investimento ao nível da auto-estima e da imagem corporal dos mesmos, também não é favorável a um desenvolvimento coerente.

Pessoas com Deficiência Profunda

As pessoas com deficiência profunda têm um grau de dependência dos outros, bem mais elevado, tendo a sua autonomia bem restrita.
A masturbação é o comportamento mais freqüente deste grupo e que causa mais embaraço com as pessoas que lidam com estes jovens, embora atualmente se trate de um comportamento que é considerado normal durante a puberdade e a adolescência.

Contudo, falta ao jovem com deficiência mental a capacidade de estabelecer barreiras entre os comportamentos que são considerados públicos e aqueles que são considerados privados. Sendo necessário que desde muito cedo, se treine este tipo de questões, tal como acontece com o controle dos esfíncteres, a alimentação, a higiene ou mesmo o local onde dormem.

(Continuação na próxima edição)

Autor: Pedro Santos (Professor)
Adaptação: Wanilda Varela (Psicóloga)
Data: Junho 2011
Site: http://edif.blogs.sapo.pt/2991.html